Quando o Estado se omite, o inocente paga: o caso Bárbara Borges

 

A morte que escancara o fracasso das políticas públicas e a cegueira ideológica que protege o criminoso.

 

 

Temístocles Telmo[1]

Entre o amor e a violência: a despedida involuntária de Bárbara Borges. Ela escreveu sobre o essencial e foi morta pela banalidade

Antes da bala, um aviso ao mundo: cuide de quem te ama. Bárbara Elisa Yabeta Borges, de 28 anos, morreu na tarde desta sexta-feira (31) após ser baleada na cabeça enquanto seguia de carro por aplicativo pela Linha Amarela, na Zona Norte do Rio. Antes de sair de casa, horas antes de ser atingida, Bárbara fez uma publicação em seu perfil no Instagram sobre prioridades da vida, relações afetivas e o valor das pessoas.

"Por favor, cuide de quem te ama. Cuide de quem te escuta, de quem te espera, de quem te quer bem. Não negligencie o essencial”. "Porque o que tem preço, a gente recompra. A maioria das coisas que perdemos, a gente recupera, mas pessoas, não. O que tem valor, quando vai embora, leva um pedaço da gente junto. E, acredite, é caro demais perder aquilo que não tem preço”. (G1-Rio de Janeiro, 2025)

A morte de Bárbara Borges, é mais que uma tragédia individual. É o retrato de um Estado que perdeu o eixo de sua missão primordial: proteger o cidadão honesto.

Enquanto as forças policiais sangram nas ruas e enxugam gelo, o Governo Federal insiste em discursos ideológicos, incapaz de estruturar políticas públicas consistentes para o eixo da segurança pública.

Recursos existem e eles são federais. Competências também, especialmente o controle das fronteiras, que é por onde entram as armas que alimentam o crime e o terror urbano.

Por terra, mar e ar, o território brasileiro é uma porta giratória permeável ao ilícito. E o que se faz? (I) Proposta de PEC da Segurança Pública, para se centralizar ainda mais os recursos; (II) Comemora-se que o Brasil solta 50% dos criminosos presos nas 24hs seguintes à prisão em flagrante; (III) Projeto Pena Justa, para continuar se beneficiando o criminoso; (IV) Crítica em tom de comício eleitoreiro aos governos estaduais que tem a coragem de enfrentar o crime; (V) Em discurso para a comunidade internacional se opõe a considerar o crime organizado como organização terrorista e ainda diz que traficante de drogas são vítimas dos usuários; (VI) Guerra de narrativas ideológicas, entre tantas ações, que acabam beneficiando a criminalidade, que a luta de quem quer enfrentar o crime, acaba ficando cada dia mais desproporcional. E de fato, nada de concreto, nada de perene.

Mas a polícia reativa, heroica e abandonada, segue combatendo com a sola e o suor aquilo que o Estado deveria conter na raiz.

Os “especiólogos” do carpete e ar condicionado e a fé na vitimização

O discurso “moderno” da segurança pública se tornou um santuário de especialistas de gabinete e do carpete. Os “especiólogos” de plantão, que jamais sentiram o cheiro da pólvora, nem o peso da farda molhada. Mas sabem inventar narrativas, e a mídia militante, bem paga e cativa, as ecoa.

Essa conjunção entre academia ideologizada e imprensa militante, criou uma nova fé: A VITIMIZAÇÃO DO CRIMINOSO.

Thomas Sowell nos alerta que essa visão não é apenas um erro estratégico, mas uma falha moral: “quando a sociedade é ensinada a se sentir culpada pelo mal alheio, o conceito de justiça se dilui e a ordem social se enfraquece”.

Essa frase revela com clareza a inversão moral promovida pela mentalidade progressista: em vez de responsabilizar o indivíduo por seus atos, transfere-se a culpa para a sociedade, o sistema ou as “estruturas de poder”. Já que em vez de responsabilizar o indivíduo por seus atos, a esquerda transfere a culpa para a sociedade, o sistema ou as "estruturas de poder". Essa lógica vitimiza o criminoso e demoniza a ordem, corroendo os pilares da justiça e da autoridade moral.

O efeito disso é profundo: ao apresentar o criminoso como uma vítima das circunstâncias sociais, políticas ou econômicas, cria-se uma cultura de impunidade, onde o verdadeiro senso de responsabilidade é perdido.

As políticas públicas baseadas nesse pensamento muitas vezes resultam em leis brandas, proteção excessiva a infratores e punição indireta às pessoas corretas que seguem as regras.

É uma crítica direta à utopia de substituir a ética individual por uma suposta justiça coletiva que, na prática, protege os culpados e penaliza os inocentes. O criminoso vira mártir. O policial vira vilão. E a ordem vira ré.

Da empatia seletiva à impunidade institucional

O efeito disso é devastador. Criou-se uma cultura de impunidade disfarçada de empatia, onde a leniência se traveste de compaixão e o crime se justifica como produto de desigualdade. Enquanto isso, o cidadão de bem é punido duplamente: pelo medo e pela impotência.

Entre o amor e a violência: a despedida involuntária de Bárbara Borges. Como foi o tiroteio?

Segundo a Polícia Militar, criminosos trocaram tiros na altura da Rua Praia de Inhaúma, próximo ao Morro do Timbau, região onde Bárbara foi atingida.

“No mesmo tiroteio, um homem que, segundo a PM, estava com um fuzil, foi baleado no meio da via. O momento foi registrado por moradores”.

Quando se fala em “fuzil”, há quem queira discutir sociologia, enquanto o bandido já está armado e pronto para matar. Fuzil é arma de guerra. Quem o porta em território civil não está em “resistência”: está em guerra contra o Estado.

Nessas situações, não há espaço para ingenuidade, há para técnica, resposta proporcional e legal. Mas a crítica moralista e ideológica tenta impor à polícia o papel de vítima resignada, incapaz de reagir diante do inimigo. Como foi defendido pela professora da UFF, que se apresenta como especialista em segurança e diz que criminosos com fuzil podem ser neutralizados com pedrada na cabeça.

Afirmação de Jaqueline Muniz ocorreu durante análise da megaoperação policial no Rio de Janeiro, ao comentar o uso de fuzis por criminosos, a pesquisadora afirmou que o armamento “tem baixo rendimento criminal” e que, durante um confronto, um criminoso portando um fuzil “pode ser facilmente neutralizado até por uma pedra na cabeça”.

“O criminoso tá com o fuzil na mão, ele é facilmente rendido por uma pistola, até por uma pedra na cabeça. Enquanto ele tá tentando levantar o fuzil e colocar o fuzil pra atirar, alguém joga uma pedra e já derrubou o sujeito”, disse a especialista em entrevista. (REVISTA SOCIEDADE MILITAR, 2025)

A vereadora Karen Santos do PSOL em Porto Alegre, afirmou em sessão plenária da Câmara Municipal da capital gaúcha, no dia 29, ao condenar a megaoperação policial no Rio de Janeiro, em posicionamento de defesa aos traficantes, disse lamentar críticas a quem recorre ao tráfico para aumentar rendimentos, que traficantes envolvidos na “cadeia produtiva” de facções criminosas armadas, como o Comando Vermelho, “são trabalhadores megaexplorados”. Ao lamentar críticas a “esse setor da nossa classe que procura no tráfico de drogas mecanismos de ter maior rendimento social”, a vereadora do PSOL ainda questionou: “Quem é que se sustenta com 2 mil reais, pessoal?” (O ANTAGONISTA, 2025)

O Direito Penal do Inimigo

Aqui cabe lembrar Günther Jakobs e seu conceito do Direito Penal do Inimigo (Feindstrafrecht). Para Jakobs, aquele que rompe de forma sistemática o pacto social, que usa o fuzil contra o Estado e a sociedade, não se comporta como cidadão, mas como inimigo da ordem jurídica. E ao agir assim, abandona o direito de ser tratado como sujeito de direitos plenos.

O problema é que o Brasil incorporou a pior parte da teoria: trata o inimigo como cidadão, e o cidadão como suspeito. E o resultado é visível: operações são questionadas, policiais processados, e criminosos tratados como vítimas de um sistema que eles próprios destroem.

Enquanto isso, Bárbara morre e ninguém do alto escalão aparece no velório. Não há ministros, não há telefonemas, não há notas oficiais de pesar. A dor do povo não rende manchete.

O preço da covardia ideológica

A verdade é simples e incômoda: o Estado brasileiro virou refém de sua covardia ideológica. Prefere parecer humano a ser justo. Prefere discursar sobre empatia do que agir com firmeza. E quem paga o preço é o trabalhador, o motorista de aplicativo, a mãe de família, o policial em patrulha.

O país precisa de menos comissões, menos likes, curtidas, palanques e holofotes. Precisa de mais coragem. De menos “especialistas” e mais políticas estruturantes. De menos ideologia e mais fronteira vigiada.

Porque, enquanto o Governo Federal faz de conta que combate o tráfico, as armas continuam entrando, a polícia continua morrendo, e a sociedade continua pagando a conta da omissão.

Após megaoperação, governo Lula gasta R$ 454 mil em anúncios nas redes em quatro dias: De olho no apoio da população à megaoperação contra o narcotráfico no Rio de Janeiro, o governo Lula (PT) gastou ao menos R$ 454 mil em anúncios nas redes sociais para divulgar ações de combate ao crime organizado nos últimos quatro dias. A ofensiva digital do governo ocorre em meio à disputa narrativa sobre a condução da segurança pública no país, tema que, em ano pré-eleitoral, se tornou terreno de embate direto entre o Planalto e os governadores aliados à oposição.

A avaliação no Planalto é que o episódio afeta um tema sensível para a gestão petista, criticada pela condução da segurança pública. Entre as três postagens impulsionadas, uma defende a aprovação da PEC da Segurança, e outra afirma que o combate ao crime só é eficaz com “inteligência”, em tom de crítica indireta à operação conduzida pelo governo fluminense. No vídeo divulgado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o governo afirma que é preciso “atacar o crime na cabeça, mas não de pessoas”, e que “matar criminosos não é a solução”. (GAZETA DO POVO, 2025)

Reflexão final

A segurança pública não é pauta de governo. É pacto de Estado. Sem ela, não há liberdade, não há justiça — só discursos sobre ruínas.

Referências Bibliográficas

G1-Rio de Janeiro. 2025. Saiba quem era a mulher de 28 anos que morreu após ser baleada durante tiroteio na Linha Amarela. G1-Rio de Janeiro. [Online] G1-Rio de Janeiro, 31 de OUTUBRO de 2025. [Citado em: 01 de NOVEMBRO de 2025.] https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/11/01/saiba-quem-e-a-mulher-de-28-anos-que-morreu-apos-ser-baleada-durante-tiroteio-na-linha-amarela.ghtml.

GAZETA DO POVO. 2025. Após megaoperação, governo Lula gasta R$ 454 mil em anúncios nas redes em quatro dias. GAZETA DO POVO. [Online] GAZETA DO POVO, 01 de MOVEMBRO de 2025. [Citado em: 01 de NOVEMBRO de 2025.] https://www.gazetadopovo.com.br/republica/apos-megaoperacao-governo-lula-gasta-r-454-mil-em-anuncios-nas-redes-em-quatro-dias/.

O ANTAGONISTA. 2025. São trabalhadores megaexplorados”, diz vereadora do PSOL sobre traficantes. O ANTAGONISTA. [Online] O ANTAGONISTA, 01 de NOVEMBRO de 2025. [Citado em: 01 de NOVEMBRO de 2025.] https://oantagonista.com.br/brasil/sao-trabalhadores-megaexplorados-diz-vereadora-do-psol-sobre-traficantes/.

REVISTA SOCIEDADE MILITAR. 2025. Professora da UFF especialista em segurança, diz que criminosos com fuzil podem ser neutralizados com pedrada na cabeça. REVISTA SOCIEDADE MILITAR. [Online] REVISTA SOCIEDADE MILITAR, 01 de NOVEMBRO de 2025. [Citado em: 01 de NOVEMBRO de 2025.] https://www.sociedademilitar.com.br/2025/11/professora-da-uff-especialista-em-seguranca-diz-que-criminosos-com-fuzil-podem-ser-neutralizados-com-pedrada-na-cabeca.html.




[1] Temístocles Telmo: Doutor e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Pós-Graduado lato senso em Direito Penal. Coronel veterano da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Com 38 anos de experiência de atuação na Segurança Pública. Professor de Direito Criminal na PUC-Assunção. Advogado e membro da Comissão de Segurança Pública da 100ª Subseção do Ipiranga da OAB São Paulo. Em 2023, coordenou os Conselhos Comunitários de Segurança da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e foi Secretário de Segurança de Santo André (2024-2025). É autor, coautor e organizador de 16 livros, com destaque para Vizinhança Solidária. Além de escritor e articulista, também se dedica à poesia.